A Música Hindustani e os seus estilos:
A Índia tem duas correntes de música clássica: a do norte, conhecida como “Hindustani” e a do sul, conhecida como “Carnática”. A música hindustani possui três grandes tradições vocais clássicas: Dhrupad (originalmente Dhruvapad – i.e., “que contém um padrão central repetido”), Khayal (literalmente significando “conceito” e Thumari.
O Dhrupad é um estilo dedicado a uma execução austera. Essa tradição é a mais antiga das três. Geralmente é datada do período pré-Mugal e é um pouco rígida em termos musicais. Este estilo está quase extinto hoje em dia. Com exceção de alguns expoentes como os Daagar Brothers (forma Daagar-bani) e os Gundecha Brothers. Há ainda um outro estilo, que é muito similar ao dhrupad que ainda existe e é chamado Dhamar. É cantado em Dhamaar tala, um cíclo rítmico de 14 tempos.
O que se escuta mais hoje em dia é o estilo Khayal. O verdadeiro período e origem deste estilo é controverso. Alguns atribuem a Amir Khushru, e outros a Niamat Khan (pseudônimo “Sadarang”) associado com o rei Mugal Mohammad Shah (1719-1748) (pseudônimo “Rangile”). No entanto, as composições khayal de Sadarang são apresentadas e tem sido cantadas hoje por causa de sua presença e proeminência do khayal de seu tempo.
O Khayal tornou-se popular durante e depois do tempo do imperador indiano Akbar. O grande músico da corte de Akbar, Tansen, popularizou esse estilo, que ainda hoje é praticado, interpretado e ensinado tanto como música instrumental quanto canto. Geralmente o que escutamos hoje em dia como “música clássica indiana” é o estilo khayal.
Já Thumari é considerado um estilo mais leve, e tem um grau maior de liberdade de expressão no que diz respeito à escolha de notas. Embora seja o estilo mais leve e menos rígido dos três estilos vocais clássicos, é provavelmente o mais difícil e requer muito talento. A aparente “liberdade” na escolha das notas, que não é permitida no Khayal e no estilo Dhrupad, requer grande habilidade e deve ser criteriosa na quantidade do uso e na localização correta, para que se possa intensificar a emoção e a beleza. Thumari é cantado em certos ragas como Bhairavi, Desh, Tilak Kamod, Pahadi, Kalavanti, Sohani, Kaunsi Dhwani, Kafi, Piloo, Jhinjhoti e Khamaj. Este estilo não se adequa a todas as ragas. Existem duas formas reconhecidas de Thumari, chamadas Purab anga e Punjab anga.
A execução do Thumari permite muita improvisação e criatividade. Ao lado do apelo emocional através das notas musicais, a exposição das mesmas palavras da composição é feita diversos modo diferentes. A linguagem primária usada nos thumaris é chamada de Braj Basha.
Diferente do Khayal, onde as variações são incorporadas ao redor do tema central de forma moderada, em Thumari as variações da estrutura musical central são bem pronunciadas e fundamentais para o desenvolvimento da composição. Bade Ghulam Ali Khan (1902-1968), merecidamente, veio a ser reconhecido como o maior cantor thumari e seu trabalho influencia gerações de cantores e diretores musicais tanto do meio clásssico quanto do popular ou do cinema.
Uma outra forma ainda é a Tarana. Este é um estilo de música vocal que geralmente é em tempo rápido e, ao invés de palavras, utiliza os bols (sílabas) da tabla, sitar, pakhawaj, saragams e também sons especiais tais como “odani”, “tanom”, “yalali”, “yalalom” etc. Requer habilidades especiais em manipular a língua afim de produzir tais sons na velocidade adequada. Mais do que a execução de certos padrões melódicos, é o laykari (variações rítmicas e intrincadas respeitando a tala e a raga) que torna este estilo atraente. Ustad Nissar Hussain Khan e Ustad Amir Khan são dois cantores aclamados deste estilo.
Além desses quatro estilos, existem muitas formas leves, semi-clássicas e folclóricas como bhajans, dadra, tappas, ghazals e quawwali. Bhajans são, em geral, músicas espirituais de tradição hindu. Dadras são na tala de 6 pulsos (também chamada dadra) e geralmente fazem parte da tradição folclórica. Tappas são, em geral, composições na classe da raga Kafi. Gazals (canções de amor) e Quawwalis são geralmente composições de origem islâmica.